Era uma vez um reino pleno de paz, harmonia e abundância, onde reinavam com amor um rei e uma rainha, pais de um filho único. Preparando-se para a sucessão foi enviado o príncipe a uma terra distante em busca da mais bela pérola, com a promessa de subir ao trono assim que retornasse.
Escoltado por seu povo fiel até os portões do reino, partiu o príncipe em sua missão. Viajou 40 dias e 40 noites antes de chegar cansado, faminto e em farrapos a um país desconhecido, onde encontrou abrigo numa estalagem. Sem dinheiro após a viagem, longa e desgastante, em troca de casa e comida o príncipe ofereceu trabalho, e por lá ficou. Se adaptou à vida nova e encontrou companheira, amigos, um novo lar. O esquecimento tomou aos poucos conta de sua mente, e ele já não sabia quem fora, de onde viera ou o que tinha vindo fazer ali. Parecia acreditar que sempre vivera naquele lugar, trabalhando na estalagem, e que em todas as tardes de sua vida se sentara naquela mesa com seu copo de cerveja…
Enquanto isto, em seu reino de origem, o povo ansioso e os pais amorosos aguardavam sua volta, pronto para assumir o trono. Passou-se o tempo, e a inquietação tomou conta:
- Onde andará nosso príncipe? Já não deveria ter voltado? Preocupados, enviaram ao príncipe desaparecido um pombo-correio com uma mensagem urgente.
- Alteza! Recordai-vos de vossa linhagem nobre! Vossos súditos vos aguardam no retorno vitorioso de vossa missão para enriquecer nossos tesouros com a mais bela pérola! Voltai, filho amado, ao regaço saudoso de vossos pais!
Após longa jornada chega o pombo à estalagem, encontrando o príncipe a conversar animadamente com seus amigos. O príncipe e somente ele podia vê-lo, ao pousar em seu ombro esquerdo e suavemente deslizar a mensagem, diretamente para dentro do ouvido. Sem mais hesitação o príncipe levantou-se, e num átimo recordou-se de sua história e missão. Correu até a beira-mar e mergulhou, surpreendendo a todos, num súbito ataque de aparente loucura. Foi fundo, cada vez mais fundo. À sua volta a escuridão tomava conta, sem no entanto amedrontar nosso intrépido herói, que enfrentava o medo e continuava a descer. Mais fundo, cada vez mais fundo. De repente, das trevas profundas, surgiu um dragão horrendo, de escamas refulgentes, a lingua em longas labaredas, rugindo e provocando ondas. Nosso príncipe destemido o enfrentou:
- Não passas de ilusão, dragão, és fruto de meus temores e hesitações! Ouvindo isso, num passe de mágica, o dragão se desfez. Do fundo do mar emergiu então, por trás da névoa do dragão desfeito, uma luz brilhante, fulgurante. O príncipe não tardou a encontrar a fonte: uma enorme ostra entreaberta, exibindo por entre a casca, rugosa e espessa, a mais cintilante das pérolas. Com vontade e determinação, o príncipe forçou a ostra, que graciosamente permitiu-lhe tomar nas mãos a pérola deslumbrante. De volta à superfície, nadou até a praia e imediatamente pôs-se a caminho. Viajou 40 dias e 40 noites, atravessou montanhas, riachos e desertos, no embornal a pérola fascinante, resguardada de olhares cobiçosos.
No terraço do palácio os semblantes reais, antes tomados de trágica ansiedade, se inundaram da mais pura alegria. Vislumbrando ao longe um brilho intenso, já se aproximando dos portões do reino, comemoravam:
- Eis nosso príncipe que retorna!
Carregado em triunfo por seu povo, aproxima-se o príncipe do palácio, onde finalmente revela a todos a magnificência da pérola que trazia. Neste momento o rei, inflado de orgulho e contentamento, passa ao herdeiro cetro e a coroa, inaugurando com júbilo em seu reino uma nova era de amor, justiça e alegria.